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17 de fevereiro de 2011

Família deixa área de risco e volta ao Interior

Foto Kid Júnior
Vindas de diversos cantos do Interior do Ceará, centenas de famílias chegam anualmente à Capital na busca de vida nova e de um lar. Sem muita opção e futuro, recorrem as áreas de risco na tentativa de não minguar no sereno e nas palafitas da cidade grande. Nesta peleja, Inês de Souza Silva, 45, fez o caminho de volta. Vai retornar para seu interior, pois não aguentou mais a vida difícil na cidade grande e devolveu a casa que recebeu da Prefeitura de Fortaleza como benefício.
"Sei que junto da minha família, no Interior, lá em Iguatu (município da região Centro-Sul), não vou passar fome. Tenho uma casa aqui, mas não tenho dinheiro nem comida na geladeira. De que adianta?", questiona.
Beneficiada com uma moradia no Conjunto Jana Barroso, ela afirma ter sofrido muito durante os 15 anos que viveu, junto com os três filhos, na Favela do Rato. Ela quer de volta o aconchego da sua terra-natal.
Para a coordenadora de regularização fundiária da Fundação de Desenvolvimento Habitacional de Fortaleza (Habitafor), Gláucia Hansen, infelizmente a atitude da dona Inês de devolver a casa ao invés de vender ou trocar é inédita. "Apesar de fazermos diversas campanhas educativas, já realizamos 20 reintegrações de posse e estamos com 72 em andamento. Fiscalizamos para evitar o comércio de casas", comenta.
Alegria
Enquanto Inês arrumava as malas e se preparava para seguir viagem, a casa dela ganhou na última terça-feira nova alegria com a chegada do feliz morador que herdou a vaga de número oito do bloco 43. "Nem acreditei quando me ligaram dizendo que alguém desistiu da casa e agora ela é minha. Morava há 30 anos num lugar apertado, num vão sem conforto algum", afirma o porteiro Francisco Edilson da Silva, 51.
Para a assistente social da Habitafor, Wglaya França, apesar de não haver dados certos sobre migração, ainda há muita gente que vem do Interior tentar a sorte, vem fugindo da seca, da fome e acaba, segundo ela, encontrando uma realidade não muito boa, indo para barracos em beira de rios e canais. "O êxodo rural é alto em Fortaleza. Na Comunidade da Maravilha, por exemplo, tem muitos migrantes que ajudam a aumentar a mendicância e a moradia precária na capital", aponta.
Confirmando a presença de interioranos nas ocupações urbanas de Fortaleza, a presidente da Federação de Bairros e Favelas (FBFF), Gorete Nogueira, conta que em aglomerações populacionais mais recentes é possível ver esse movimento migratório aumentar a cada ano. Entretanto, segundo ela, há ainda muitas famílias que estão há 30, 40 anos vivendo na precariedade, à espera de um benefício social. "A gente tem percebido nas visitas feitas pelo Núcleo de Habitação e Meio Ambiente (Nuhab), migrações frequentes tais quais a de dona Inês, que voltou para sua terra de origem", frisa a presidente.
Espera
Se uns desistem do sonho de morar na Capital - mesmo que seja em uma área de risco - outros são mais persistentes. É o caso da aposentada Valdelice Moreira, 83, que espera, segundo ela, há mais de 40 anos por uma casa mais digna, longe dos riscos, perigos que as águas e cheias dos rios e chuvas lhe oferecem. "Já tive minha casa inundada na Comunidade da Maravilha várias vezes, não tenho dinheiro suficiente e vivo de lavar roupa, mas não vou voltar para meu interior em Cascavel, pois quero ganhar minha casa da prefeitura de Fortaleza", idealiza Valdelice.
Em uma cena contrastante a aposentado viu ontem à 12 família ganharem vagas no novo Conjunto Habitacional, próximo à avenida Borges de Melo. Entretanto, ela continuou na mesma, testemunhando da sua janela os demais mudarem de vida e ela estacionar. "Faz tempo que eu espero uma casa nesses conjunto e nunca vieram falar nada comigo, dar uma resposta", aponta. Durante todo o dia de ontem, 12 remoções foram feitas da Maravilha, totalizando 588 novas moradias entregues à Maravilha.
Há uma promessa, conforme explicou o coordenador da atividade, Francisco Almeida, da transferência de outros 18 moradores da Maravilha a fim de se dar um fim aos últimos barracos existentes à margem do canal do Lagamar.
Conforme o coordenador de ações preventivas da Defesa Civil Municipal, Franklin Nascimento, a cidade conta com 19 mil famílias morando em 91 áreas de risco.

Fonte:Diário do Nordeste

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